quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Resenha: Mundo Cão - Matheus Peleteiro


Olá seres imersos no caos, hoje quero falar a vocês um pouco do livro Mundo Cão. Bora? 

Título: Mundo Cão
Autor: Matheus Peleteiro
ISBN-13: 9788542804324
Ano: 2015
Páginas: 168
Editora: Novo Século
Ficção / Literatura Brasileira

Unindo elementos de literatura marginal com sentimentos altruístas, surge Mundo Cão, que narra, em primeira pessoa, a história de Pedro Contino, um jovem que so­fre desde cedo por conta das peripécias da vida, e, por mais que busque o melhor, vê, em sua sombra, o caos. Morador da favela Roda Vida, Pedro poderia ter traçado qualquer caminho, mas a vida escolheu um em especial. Mesmo em meio à ausência de recursos, é apresentado à literatura por um vizinho mais velho, e, por conta dela, cria uma importante consciência social. Guiado por músicas e livros, ele logo percebe como tudo funciona. Indigna-se e, amargamente, percebe que não tem poder para realizar uma mudança no mundo…
O caos já faz parte dele, envolvendo-se com drogas, álcool, e, para completar, com as mais belas e loucas mulheres.
 Inicialmente eu achei que este livro era a história de um garoto da favela que vence na vida através da literatura. Engano meu. Esta é uma ficção que não termina exatamente com um final feliz. 
O homem é o homem do homem, o lobo já se tornou inofensivo há tempos, a revolução da ignorância vai dominar as cidades, vivemos a era da explosão da falta de educação, que vem crescendo a partir da raiz de todas as classes.
Inspirado em Charles Bukowski, Mundo Cão nos traz reflexões sobre a nossa geração. Através de um pessimismo ponderado em sensatez, nos revela um pouquinho da história de cada garoto desse Brasil. Espirituoso e trágico, com escrita direta, Matheus Peleiro nos presenteia com sua obra.

A história se passa em Salvador e somos logo de cara apresentados a favela Roda-Viva, diante de um tiroteio Pedro Contino vê um conhecido baleado ao chão, é pequena sua comoção diante do corpo, e menor ainda na presença de outro corpo. "Se mesmo o Feijó, morador do bairro, não nos representou uma grande perda, imagina só o outro coitado."


Pedro não chegou a conhecer sua mãe, e não sabe quem é seu pai. Mora com os avós, por quem foi criado e educado. Já no primeiro contato com essas informações, Contino irradia descontentamento com o Pais onde mora. Mas ele não faz isso como nossa geração faz, reclamando no facebook repleto de hipocrisia. Ele faz isso com palavras notáveis, pois tem uma visão distinta das demais pessoas da favela.
Quem nasce sendo ninguém, sabe muito bem que o medo de nunca se tornar alguém irá acompanhá-lo pelo resto da vida.
Apesar de morar na favela, Pedro foi introduzido por seu amigo Luiz à literatura. Através da leitura, ele passou a perceber o mundo a sua volta de um modo diferente. Um de seus escritores preferidos é Bukowski, o qual passou uma importante lição, escrever é um prazer individual, é transcrever em letras e frases sensações, prazeres e desgostos que o mundo lhe passa, devolvendo o papel na mesma moeda.
Ele dizia que escrever é se lamentar, e alguns simplesmente se lamentavam melhor que outros. Isso é literatura, não autodevoção.
Através disso, teve uma oportunidade de emprego, que se transformou em uma chance de subir na vida. De segurança de um bar de rock, passou a ser gerente e mudou-se da casa dos avós. Tem um amigo, Rodrigo, que vive no tráfico e mostra as mazelas de dentro da favela Roda-Viva.
Vivemos para semear a própria miséria, para perceber o quanto somos limitados perante esse imenso universo.

Contino primeiro recrimina o povo brasileiro, e depois sente inveja por eles se divertirem com tão pouco. É assim, pois tem consciência das coisas. Reflete sobre o mundo, o brasil e a favela. Há devaneios em meio a tanta podridão. Matheus conseguiu intercalar pensamentos em meio a conversas banais.
Ela sorria de verdade, aquilo era diversão, e eu sentia inveja, dela e de todos que estavam adorando aquele momento. Eu não conseguia esquecer o mundo ao redor e as partes ruins, não enxergava nada de bom, e eles sorriam para mim...
No livro, Pedro se envolve com belas e loucas mulheres. Porém, nem tudo são flores. Ele é um personagem machista, não ao extremo, mas com ideias enraizadas na sua mente e com sua masculinidade ferida por pouca coisa. 
Uma coisa era inquestionável: eu adorava as loucas, elas eram excitantes e reais.
Assim como Bukowski, tem uma paixão pelas mulheres, e delas se satisfaz. Os livros de Bukowski são autobiográficos, o que não acontece aqui. Claro que Matheus Peleteiro colocou um pouco de si no personagem, um pouco de suas ideias e anseios, mas o tipo de machismo presente no livro não está presente no autor dele.
Casamento me apavorava, me parecia o fim do jogo, um contrato vitalício que me parecia tirar o mistério das coisas.

Há uma contradição aqui, Pedro gostava das mais loucas, mas preferia as outras. Chegou a um devaneio sobre como as putas eram superiores aos reles mortais, por simplesmente serem putas e estarem a margem da sociedade, sem se preocupar com a opinião alheia. Elas eram livres, sem amarras, diferente dele.
Mulheres inteligentes e liberais são fascinantes, parecia que um mundo havia se aberto apenas dentro da cabeça dela e que todo esse mundo fora dela fosse só um detalhe.
Apesar do interesse pelas mulheres, sempre preferia Carol, uma moça da favela. Desde pequeno se via fascinado por suas curvas e pelo seu olhar. Mas não tinha coragem de expressar esse sentimento a ela. Carol era de uma sensibilidade diferente, ela era diferente das outras. Era para ela que Pedro sempre queria voltar. Ele almejava sua companhia e seus beijos, esperava que um dia pudesse amá-la plenamente. Um dia posso conquistar Carol, pensei. Posso e espero.
Os romances que li não mostravam o amor como algo que fazia bem ao homem, pelo contrário, era algo que os consumia. 

Por mais que tenha tentado ficar longe do mundo do crime, ele o atrai.
Nós somos os grandes cães, meu amigo, estamos vivos, e se estamos vivos é para rugir, vamos deixar que o instinto tome conta de nós.
Tem muito mais coisas por trás destas palavras nesta resenha, assim como há muito mais coisas a serem pensadas por trás das linhas deste livro. Espero que tenham ficado curiosos para lê-lo. É uma leitura rápida, que certamente lhe gerará reflexões sobre o que estamos vivendo no Brasil. 

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9 comentários:

  1. Olá; acho que já havia visto algo sobre esse livro; gostei da resenha. A história é bem interessante, pelos trechos que li, deu para perceber que o autor tem uma boa escrita.

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  2. Parece pessimista, mas de uma forma boa do tipo que gera reflexão e incômodo. Deve ser mesmo uma ótima leitura. Afinal, incomôdo e reflexão é uma combinação interessante.

    LETRAS COM CAFEÍNA

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  3. Olá, eu já li esse livro um tempinho atrás e achei muito bacana a sinceridade do autor, pois é muito visível que é uma história que apesar de não ser baseada em fatos reais, todos sabemos que essa é a realidade de muitas pessoas por aí. Adorei!

    Beijos

    http://www.oteoremadaleitura.com/

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  4. Olá
    eu adorei a resenha do livro, já tinha visto alguns comentários sobre o livro no Skoob e gostei bastante, até cheguei a receber uma msg do autor falando sobre a obra, kkk, essa capa é incrível
    bjks
    Passa Lá - http://ospapa-livros.blogspot.com.br/

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  5. Oi! Tudo bem?

    Nunca tinha ouvido falar na obra. Gostei do fato de ser inspirado pelo Bukowski e de que o livro é o contrário do que você pensou, tendo um final não extremamente feliz. Todavia, acredito que não seja a leitura ideal para o momento agora. Mas deixo a dica anotada!

    Beijos,

    Juliana Garcez | Livros e Flores

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  6. Acho que já tinha ouvido falar desse livro uma vez e ele não tinha me chamado atenção, porém depois da sua resenha achei a história bem mais interessante e fiquei curiosa para saber mais sobre Pedro.
    Espero poder ler o livro.

    Lisossomos

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  7. Olá! Tive curiosidade sobre esse livro assim que li sua sinopse e conversei um pouco com o autor. Gostei muito da proposta e, depois de ler sua resenha, tenho total certeza de que a leitura me agradará. Gosto de reflexões presentes nos livros, mas não de um jeito filosófico e sim vivido. Ao que parece, esse personagem é bastante crível… Poderia ser qualquer garoto brasileiro. Com certeza, pretendo ler.

    Beijos!
    http://www.myqueenside.blogspot.com

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  8. Não conhecia o livro e o mesmo chamou bastante minha atenção, logo de cara gostei, espero poder ler, marquei até em desejado para comprar haha
    http://odiariodoleitor.blogspot.com.br/

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  9. Oie, tudo bom ?
    Eu gosto de livros que fazem o leitor refletir um pouco sobre nossa própria sociedade. Não conhecia essa obra, mas achei a premissa bastante pertinente.
    Beijos,
    http://livrosyviagens.blogspot.com.br/

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