quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Resenha: Nunca o Nome do Menino - Estevão Azevedo

Título: Nunca o nome do menino
Autor: Estevão Azevedo
Páginas: 196
Editora: Record
Ano: 2016
Literatura Nacional

Romance do autor vencedor do prêmio São Paulo de literatura 2015

Como assegurar que não somos meros sonhos de um criador que desconhecemos, e por que confiar em sua existência? Partindo do dilema borgiano de uma mulher que se vê personagem de uma obra de ficção e de todas as reflexões que passa a ter em função disso, Estevão Azevedo alinhava sutilmente referências literárias que vão de Homero a Vinicius de Moraes, passando por Camus, João Cabral de Melo Neto e, sobretudo, Machado de Assis. O resultado é um romance metaliterário, que, em vez de se propor erudito, sugere um pacto lúdico ao leitor.
Edição revista pelo autor, com posfácio inédito Estevão Azevedo tem contos publicados em revistas e na antologia de escritores brasileiros Popcorn unterm Zuckerhut – Junge brasilianische Literatur, lançada em 2013, na Alemanha. Tempo de espalhar pedras (Cosac Naify, 2014) foi eleito o Livro do Ano pelo Prêmio São Paulo de Literatura de 2015

Estevão Azevedo é um exímio explorador das palavras, das sílabas, da forma em que cada letra se encaixa na oração. É de uma precisão as vezes imprecisa, autor de frases de impacto que nos leva a uma narrativa impactante. 

Logo no primeiro capítulo somos introduzidos à uma mulher que amputou o dedo ao perceber que era personagem de um livro. Um tanto quanto dramático, mas que fisga o leitor logo nas primeiras frases. Seria isso verdadeiro? Sua suspeita era real? Ela realmente estava presa dentro de um livro e o autor a obrigava a seguir um roteiro? 

O que todo mundo busca é o alívio de enfim virar narrativa. O que não sabem é que eu, quando me vi em estado puro de escritura, quando descobri minhas veias como longa escrita cursiva, meus olhos como puro adjetivo, meu sangue como nanquim, minhas contradições, oximoros, meus poros, pontos finais, minha pele, metáfora, e meu desejo, hipérbole, quando o momento máximo de autoconhecimento não foi mais que uma peripécia, a angústia então foi tanta e tão intensa e tão romântica que pela primeira vez, desejei, mesmo sendo excessivamente feliz, morrer.


É preciso estar muito atento à escrita de Estevão, por vezes a personagem chama atenção para os leitores desatentos, conversa conosco como se fossemos cúmplices do autor que a deixara naquela situação. Ela nos relata como descobriu ser apenas uma personagem, e por trás dessa paranoia há uma vida correndo. 

Ela se distrai, faz coisas loucas, se diverte ao contar sua história enquanto por dentro não passa de um drama triste a qual ela quer se livrar. Ela quer ser apenas ela mesma, mas como ser você mesmo, se não sabe como você é? Ela foi criada por um autor, não há como ser ela mesma. Uma angústia nos sobe com tanto sentimento em antítese. 


Diante dessa novela, ainda há um menino. Ela o conheceu quando criança e mais tarde ele retornara a sua adolescência. Nunca o nome do menino nos deixa extasiados com a riqueza de detalhes, dramas carregados e peças interligadas de anos depois. Tudo se encaminha para um final fatal e embora parecesse que o leitor não poderia se surpreender mais, ele é surpreendido.

Estevão conseguiu com que ficássemos curiosos o livro todo, que devorássemos cada alcunha, cada particularidade. Nos deixou surpresos do início ao fim. Azevedo nos mata a cada fim de capítulo, a cada alternação entre o menino na adolescência e a mulher em sua vida adulta.  


Quem somos nós? Talvez também tenhamos o mesmo destino que essa moça. Somos apenas comandados por um autor? 
Era uma vez uma mulher linda linda linda e que por ser tão inteligente e ter tantas ideias malucas desde menina, acabou ficando maluca mesmo.

Essa é uma edição belíssima para uma história encantadora, à altura. A diagramação é bem feita, as folhas são amareladas e quase aveludadas, tal qual a capa. A leitura flui com uma naturalidade imensa, e embora tenhamos que prestar muito atenção às antíteses e metáforas, é um livro que vale a pena ser lido.


E você, o que achou deste livro? Leria? Deixe um comentário, vou adorar saber sua opinião! 

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12 comentários:

  1. Parece fantástico. Esse ano quero ler muito mais e estou a procura de novos livros, esse com certeza vai para a lista. Amei!

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  2. Parece ser um livro muito interessante... vai pra lista :)

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  3. Esse me parece ser um livro muito bom. E se não precisarmos ser um personagem literário pra ser um sonho de um criador. E se criamos o criador, de modo a suprir o desejo egoísta de sermos criatura. Talvez Deus, seja o nosso escritor, embora criado por nós mesmos. Gostei demais.

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  4. Acredito que o livro seja ótimo, nota-se que os personagens foram bem escritos, tô intrigada com a leitura dele viu???!!!
    Beijinhos, Helana ♥
    In The Sky, Blog / Facebook In The Sky

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  5. Oiii, tudo bem?
    Não conhecia o livro e me senti tentada para ler o quanto antes, sua resenha me deixou babando, principalmente por essa capa linda que é de encher os olhos.
    Beijinhos da Morgs!

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  6. OOi!
    estou me lembrando um pouco do livro, provavelmente já o tinha visto nas redes sociais, mas acredito que essa é a primeira resenha que leio. Não é um livro que pegaria como primeira escolha, mas gostei bastante da premissa e com certeza seria ótimo para quando estivesse procurando sair da zona de conforto!
    Beijoos!

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  7. Oie!
    Nossa não conhecia o livro, mas confesso que fiquei um poucco confusa com a sua resenha e isso me deixou muito curiosa para ler essa história que parece uma loucura...
    Dica mais que anotada.

    beijos
    Livros & Tal

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  8. Nossa, esse livro parece muito bom!!! Fiquei bastante curiosa, como seria viver em um livro? Mais curiosa ainda, fiquei para conhecer essa personagem... provavelmente pq, além de leitora compulsiva, sou também Psicóloga rsrsrs
    Parabéns pela resenha!

    Bjs
    www.livrosdabeta.blogspot.com.br

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  9. Olá, tudo bem? Não conhecia o autor, nem a obra, mas me interessei muito pela premissa e sua resenha junta. A capa é LINDA. E o tema proposto me instiga. Adorei!
    Beijos,
    diariasleituras.blogspot.com.br

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  10. Olá!
    como assim uma mulher que vivia dentro de um livro? Fiquei meio confusa e curiosa ao mesmo tempo. a história parece ser inovador e intrigante. Vou anotar a sua dica e ler assim que puder. Na sua resenha deu para perceber que a história é muito boa.
    Beijinhos!

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  11. Que proposta diferente, eu ainda não havia escutado falar dele, mas me senti muito curiosa para saber mais! E a edição está realmente linda!!!!!!!! Vou querer conferir, até porquê quando criança costumava questionar se eu não era personagem de um livro e não sabia disso. kkkkkkkk

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